Valongo, desde tempos imemoriais, foi o principal fornecedor do pão da cidade do Porto. O seu desenvolvimento até o séc. XIX, está claramente ligado à moagem do trigo e à sua transformação e comercialização.
Numa primeira fase, este facto deve-se ao lavor dos almocreves de Valongo da Estrada, que traziam o trigo do interior transmontano e o levavam para a cidade, sendo que algum desse trigo já ia transformado em pão de Valongo.
Terá sido no séc. XVI, devido ao acentuado aumento demográfico da cidade do Porto e à necessidade de abastecer os seus habitantes da principal base da alimentação da época, que Valongo se transformou no principal centro panificador da região.
Valongo é beneficiado pela sua situação geográfica de proximidade com o Porto e, principalmente, pelos inúmeros moinhos nas margens do rio Ferreira, que permitiam moer o trigo que aí chegava, via almocreves, e, principalmente, por via fluvial e marítima, já que o trigo, que chegava ao porto de Gramido, em Valbom-Gondomar, nas barcas do Douro e ainda nos barcos vindos do estrangeiro, era levado em carros de bois até os moinhos do rio Ferreira para ai ser transformado em farinha de qualidade. O trigo estrangeiro e transmontano era de qualidade superior ao trigo produzido do Douro litoral.
Esta farinha era, depois, levada para Valongo, onde, através da maestria dos seus padeiros, da qualidade da água usada na confeção e das lenhas usadas na sua cozedura resultava num pão de excelente qualidade, tão apreciado no Porto, como pode ser constatado em inúmeros relatos que chegaram até aos nossos dias.
Outro fator importante para o fornecimento do pão ao Porto, está relacionado com os benefícios fiscais que as padeiras e o moageiros de Valongo iam recebendo do Porto. Existiu, na cidade do Porto, uma política de proteção aos padeiros e moageiros de Valongo, para que não houvesse carência deste importante produto dentro da cidade, chegando mesmo a isentar de impostos, não só a entrada do pão mas também isentar de impostos o trigo que chegava via porto de Gramido a Valongo. Certo é que, em alturas de abundância, estas isenções eram revogadas.
Com a entrada no séc. XIX, numa conjuntura de lutas contra os franceses seguidas de lutas liberais e ainda do início da utilização da moagem a vapor, Valongo começa a perder a importância no abastecimento da cidade, mas nunca deixa de o fazer, até aos nossos dias, devido à qualidade e fama dos seus produtos.
É nesta altura que se incrementa o fabrico dos biscoitos de Valongo, para satisfazer uma clientela de um maior poder económico, com produtos de qualidade e com uma maior durabilidade.
Ainda está na memória das gentes do Porto as padeiras de Valongo que, com “canastras” à cabeça, vendiam, pelas ruas da cidade, os seus produtos de eleição.
O pão de Valongo, do qual se destaca a afamada regueifa e os biscoitos de Valongo, é um património material e imaterial que urge preservar e manter bem vivo na memória das gentes. Para que este legado não se perca, um grupo de valonguenses, ligado a várias áreas profissionais, uniu-se com o intuito de o preservar, defender e promover.
Assim, a 4 de junho de 2015 materializaram essa intenção com a criação de uma Associação, sendo essa a “primeira fornada” da CONFRARIA DO PÃO, DA REGUEIFA E DO BISCOITO. A esses juntaram-se outros, pelo que, passado um ano, mais precisamente no próximo dia 4 de junho (2016), realizar-se-á o I Capítulo, em que vão ser entronizados mais de cem Confrades, entre Confrades Fundadores e Honorários.
Grupo das Tradições